"OPERAÇÃO: ORFEU"
ÓPERA VISUAL EM TRÊS ANDAMENTOS
UMA PRODUÇÃO HOTEL PRO FORMA
25 E 26 JAN. 21H00 GRANDE AUDITÓRIO
CENTRO CULTURAL DE BELÉM
Concepção Direcção: Kirsten Dehlholm
Música: Bo Holten, John Cage e C. W. Gluck
Legendagem em português
OPERAÇÃO: ORFEU, pela companhia dinamarquesa Hotel Pro Forma, é uma ópera visual inspirada no conhecido mito do músico apaixonado que desce ao mundo dos mortos para recuperar Euridice. Foi apresentada no CCB, em 1998, durante o Festival Mergulho no Futuro – Expo'98.
"Operação: Orfeu" é uma performance como um ritual. Baseado no mito de Orfeu e Euridice, é composto por uma sequência cénica de imagens com andamentos formalizados, desenhados pela luz e apoiados pelo canto sinfónico. A performance desenvolve-se por oposições: a escuridão e a luz; a vida e a morte; o som e o silêncio. Sendo uma ópera visual, explora reminiscências mais profundas do antigo mito, nas suas associações inevitavelmente emergentes de formas pré-conscientes
Como o mito é muito conhecido, não há necessidade de contar o enredo detalhadamente, mas este pode servir como fio condutor dramatúrgico. "Operação: Orfeu" está dividida em três partes. A escuridão prevalece na primeira parte e refere-se à descida de Orfeu. Do indistinto claro-escuro da segunda parte, surgem pessoas que reclamam a subida de Orfeu. Uma luz forte aparece quando a terceira parte começa e reflecte a perda de Euridice, como se fosse uma lembrança revelada. Segue-se uma sequência de imagens, uma permuta entre a ilusão total do plano bidimensional e a profundidade tridimensional.
A estrutura do cenário delimita o finito e é a passagem para o infinito. Dentro desta estrutura, os modos habituais de ver e de compreender estão suspensos ou deslocados. A mudança de perspectiva reside em formas que coexistem entre uma tela gigantesca e outra com uma profundidade monumental. Os detalhes mais pequenos podem ser vistos através da limpidez da ampliação, mas tornam-se irrelevantes quando confrontados com o conjunto. O conhecido e o desconhecido são trazidos para novos alinhamentos de modo a criar assonância poética – destituída de sentido resoluto na sua afirmação, ainda que preenchida de sentido na sua experiência.
Por toda a parte, os intérpretes transformam a composição do espaço consoante se movem, como se fossem elementos de uma pintura animada ou de uma escultura. As acções minimalistas dos cantores relacionam-se cuidadosamente com a música, mas não a interpretam. Assim, duas linguagens diferentes sobre movimento e música comunicam-se de um modo subtil, sem se ilustrarem uma à outra.
A bailarina solitária é a única figura que pode ser encarada como representante da narrativa do mito, embora não se lhe possa atribuir qualquer personagem em particular – podia ser Orfeu, podia ser Euridice. Podia, até, ser o próprio contador de histórias.
Tal como os elementos visuais, a música cria um jogo de diferença através de oposições que se atraem e se iluminam uma à outra: o ténue e o volumoso, o esporádico e o unificador, o solista e o coro.
O minimalismo de John Cage é representado num coral puro e enérgico, enquanto a música de Bo Holten, inspirada no coro da Renascença, e especialmente composta para esta produção, é exuberante e sugestiva. A famosa ária "Che faro sensa Euridyce" da ópera Orfeu e Euridice de Gluck surge como uma citação clássica, um ícone, uma memória.
O elenco é composto por doze cantores, um solista mezzo-soprano, um bailarino a solo e o maestro.
Tradução: Mafalda Melo Sousa