de 29 DE ABRIL A 4 DE MAIO DE 2008No âmbito das comemoração do dia mundial da dança de 29 de Abril, a REDE- Associação de Estruturas para a Dança Contemporânea, propõem um conjunto de iniciativas, a que demos o nome genérico de “Festa da Dança” e que terão lugar entre 29 de Abril e 4 de Maio em vários espaços na cidade de Lisboa.
Este ano decidimos “dar corpo” ás diferentes frentes de intervenção com que nos ocupamos, desde a consciencialização cívica e política, passando pela reflexão sobre o nosso passado e o nosso futuro, até à celebração artística propriamente dita. Achamos que o momento que a nossa comunidade atravessa, sobretudo quando a olhamos a partir “do interior”, é de grande vitalidade e queremos, com esta iniciativa, partilhar e confirmar esta convicção.
A programação da Festa da Dança será apresentada no dia 29 de Abril, dia mundial da dança, na LX Factory, com a participação das estruturas, artistas, parceiros e colaboradores. A acompanhar esta apresentação estará a passar um filme-ambiente que será feito a partir do espólio do centro de documentação do Forum Dança. Iremos ainda homenagear publicamente o Professor Gil Mendo, figura incontornável e central para a afirmação da dança contemporânea em Portugal e na Europa, tornando-o sócio honorário da REDE.
ProgramaçãoA programação da Festa da Dança sustenta-se em quatro eixos de referência, a partir dos quais a programação foi desenhada: eixo histórico, cartográfico, sócio-político e pedagógico – artístico.
Eixo HistóricoA dança independente contemporânea, por definição, constitui-se de forma dispersa e extremamente atenta ao seu “presente”. Consideramos que essa característica inalienável da sua “identidade”, dificulta a sua inscrição no “imaginário colectivo” e fragiliza a sua legitimação enquanto comunidade madura e já detentora de um património de uma enorme riqueza. Compreender e perceber o nosso passado (mesmo que recente) é a condição necessária para desenhar e projectar o futuro.
Nesse sentido, a Festa da Dança, para além das actividades descritas mais há frente, será o ponto de partida de três projectos de folgo, que se irão desenrolar no médio prazo e que visam exactamente a inscrição e legitimação da comunidade na sociedade:
a)
Estudo Sócio-Económico. Em parceria com a Faculdade Economia do Porto (através da socióloga Helena Santos e do economista José Varejão) será elaborado um estudo sócio-económico que terá como objectivo fazer o diagnóstico da comunidade, de forma a compilar e comparar informação útil para a compreensão do impacto económico e social que temos na sociedade. A partir de uma recolha exaustiva de dados, será elaborado um estudo abrangente e transversal que apresentará um retrato da paisagem coreográfica portuguesa, assim como elementos de reflexão comparativa, tendo em vista a construção de um instrumento de análise para um melhor entendimento da nossa comunidade e sua interacção com a sociedade.
b)
Projecto “Repertório”. Mesmo que pareça um contra-senso (ou talvez exactamente por isso), queremos construir e promover a ideia de que a dança contemporânea é também possuidora de um património próprio. A nossa ideia é contactar escolas de dança nacionais e internacionais para que, caso lhes interesse, possam remontar peças de referência do nosso património (numa lógica de “reenactments”, ou seja, através da apropriação e re-interpretação da obras e não da mera cópia ou imitação), com os alunos dos últimos anos e acompanhados pelo autor(a) da obra. Pensamos que esta é uma forma de “dar vida” a obras que, de outra forma, não seriam nunca mais apresentadas, ao mesmo tempos que transmite a “nossa história” de uma forma directa.
c)
Documentário sobre a Dança Contemporânea Portuguesa. Passados mais de vinte anos desde as primeiras obras da Paula Massano ou Madalena Vitorino, que “inauguram” o movimento da Nova Dança Portuguesa (e que dá corpo à actual comunidade da Dança Contemporânea Portuguesa), pensamos ser o momento para realizar um “filme de autor” que reflicta essa realidade. O objectivo será colocar esse filme no circuito nacional e internacional de festivais de cinema, propô-lo ás televisões e pô-lo à disposição das escolas, universidades e centros de documentação. Pretendemos ainda que o material bruto recolhido para a criação do filme, nomeadamente as entrevistas a artistas, sejam tratadas de forma a estarem acessíveis para investigadores e interessados nos seus discursos na totalidade.
Eixo CartográficoNos últimos anos foi-se desenhando em Lisboa, quase sem darmos por isso, um circuito de estruturas para a dança contemporânea impressionante e que, a nosso ver, atesta a nossa vitalidade e maturidade.
Em forma de um “L” deitado, podemos dizer que o ciruito começa no edifício dos Bombeiros Lisbonenses no Marquês do Pombal, espaço que está “ocupado” pela dança contemporânea desde os anos oitenta. Num primeiro tempo esteve lá a Escola de dança do Rui Horta e por onde muitos coreógrafos da primeira geração da Nova Dança Portuguesa passaram, e, num segundo tempo e durante muitos anos, foi a sede e estúdios do Festival Alkantara (na altura Danças na Cidade), da Companhia ACCCA da Clara Andermatt a da Eira de Francisco Camacho, que ainda lá se encontra. Descemos depois pela a Avenida da Liberdade até à baixa pombalina e na Rua dos Fanqueiros encontramos a estrutura C.E.M/Centro em movimento, que faz o “cotovelo” do “L”. Vira-se à direita, sobe-se até ao Chiado e chega-se ao edifício da Interpress no Bairro Alto onde encontramos os estúdios e salas de apresentação da Bomba Suicida, o actual espaço da Companhia ACCCA e o Forum Dança. Descemos depois a Calçada do Combro, passamos pelo espaço do Negócio da ZDB, seguimos pela Rua Poços do Negros e passamos pelo Atelier Real e chegamos em Santos, ao novo espaço do Festival Alkantara. Por fim, segue-se pela 24 de Julho (no sentido inverso dos novos noctívagos) para acabar este enorme percurso na zona do Largo do Calvário onde, a partir de Maio deste ano, o Forum Dança e o Rumo do Fumo passarão a ter os seus espaços na LX Factory.
Esta cartografia, como se percebe pelo logótipo, funcionará enquanto sub-texto motor da Festa da Dança, propondo que a população e os artistas circulem pelas nossas instalações e conheçam a nossa realidade “por dentro”.
Os espaços de que falámos são os que vão “receber” a Festa, mas existem muitos outras estruturas associadas na capital, como a Dupla Cena, a Jangada de Pedra, a Vo’arte, os Materiais Diversos ou o ZUT!, que funcionam sobretudo enquanto escritórios de produção. E por outro lado, esta dinâmica também acontece à escala nacional, em cidades e localidades como o Porto (Balleteatro, Fábrica de Movimentos, NEC…), Viseu (Companhia Paulo Ribeiro/Teatro Viriato), Vila Nova de Ródão (CENTA), Torres Vedras (Transforma), Almada (Ninho de Víboras), Montemor-o-Novo (Espaço do Tempo) ou Algarve (CaPA, Casa Branca…). A REDE existe no nome e no terreno.
Eixo Sócio-PolíticoPode-se dizer que a dimensão política, na actividade da REDE, corresponde ao seu DNA e sua razão primária de existência. Com efeito, é exactamente fruto de uma instabilidade eudermica do sistema (7 ministros da cultura em 10 anos…) e sentido de responsabilidade dos seus associados perante a precariedade consequente, que a Associação REDE foi criada.
Para esta Festa da Dança queremos dedicar dois dias de debates sobre duas questões centrais e estruturais da nossa actividade:
a)
Dia 30 de Abril:
Apoios estatais e estratégia cultural. O tema dos apoios estatais, ficará em aberto e será definido um pouco mais em cima do acontecimento, exactamente porque queremos utilizar esse dia para reagir e saber como o novo Ministro da Cultura pretende “fazer mais e melhor com menos meios” (30.01.2008). Em relação à estratégia cultural queremos, numa atitude pro-activa e construtiva, dar alguns instrumentos de reflexão aos nossos governantes, chamando-lhes a atenção, por exemplo, para a necessidade de se avançar, à semelhança do que acontece em outros países de referência europeus, para a criação de uma Casa da Dança, para o necessário investimento em infra-estruturas, para a urgência de parcerias estratégicas com o ministério da educação, ministério da economia, ministério dos negócios estrangeiros, etc., ou ainda para a necessidade de dotar a rede de cine-teatros do país, com meios reais para desenvolverem uma programação de qualidade que estimule a circulação dos artistas.
b)
Dia 1 de Maio:
Condição Sócio-Profissional. Existem muitas questões e problemas nesta área que seriam merecedores da nossa atenção, mas existe uma que está na ordem do dia e que faz todo o sentido tratar no âmbito da Festa da Dança e, sobretudo, por calhar, no dia do trabalhador: a questão da intermitência no trabalho. Foi promulgada em Fevereiro de 2008 a Lei n.º 4/2008 que pretende regulamentar um novo regime contratual para o sector das artes do espectáculo e do audiovisual que consideramos completamente desajustada da realidade e manifestamente oportunista. É uma lei desfasada das nossas necessidades e que não oferece respostas concretas aos problemas contratuais e de segurança social que afectam a maioria dos profissionais independentes. Para a organização deste debate, contaremos com a Plataforma dos Intermitentes da qual a REDE faz parte.
Eixo Pedagógico-ArtísticoNos dias 2, 3 e 4 de Maio afirmar-se-á a componente “festiva” e celebrativa da Festa da Dança, através duma programação diversa e dispersa pela cidade que visa “apresentar” as diferentes vertentes e dimensões do trabalho desenvolvido pela comunidade que representamos. Essa programação terá três dos principais: o pedagógico e o performativo.
Dia 2 de AbrilA Festa da Dança é um momento de celebração para o exterior mas tem-se também que criar as condições para que os seus associados se encontrem e ponham “em dia” as suas conversas. “O que andas a fazer?” é o título de um encontro interno, aberto a um público profissional (estudantes, investigadores, críticos, programadores, etc.) que durará todo o dia de 2 de Abril e que dará a cada estrutura, no formato que entender (oral, vídeo, power point, etc…), a oportunidade de apresentar a sua estrutura. Muitas vezes pensamos que conhecemos as actividades de cada um, mas a verdade é que não só as estruturas mudam e alteram os seus focos com o tempo, como nunca são uma “só” coisa. Por outro lado, como não se poder ver tudo, a informação que nos chega já vem filtrada e não representa a complexidade das estruturas.
Dia 3 de Abril10h00 as 14h00 - Aulas Abertas em técnicas de dança contemporânea para não profissionais (adultos, bebés, crianças e pessoas da terceira idade) serão organizadas em vários espaços de formação de Lisboa a fim de partilhar a experimentação destas técnicas. Espaços: Forum Dança, CEM, ACCCA, Eira.
15h00 as 23h00 - Programação em simultâneo de projectos em fases distintas de criação, entre a instalação-performance, o work-in-progress e espectáculos, em 4 espaços de Lisboa: Atelier Re.al, Bomba Suicida/Interpress, Negocio/ZDB, Festival Alkantara.
No Atelier Real, espaço da RE.AL, serão apresentados projectos ainda em fase embrionária, onde os artistas irão sobretudo falar das suas intuições e intenções num formato que poderá ou não implicar a apresentação de materiais concretos mas que implicará com certeza a discussão com o espectador e uma abertura no sentido de responder a questões que possam surgir em relação ás suas propostas. Essa relação entre espectador e artista será mediada por um moderador.
No espaço do “Negócio/ZDB” serão apresentados projectos numa fase em que os materiais já estão explorados e os artistas sentem a necessidade de os confrontar e experimentar com outras disciplinas que obriguem a um tipo de condições mais exigentes. Pode também dar-se o caso de serem projectos ainda em fase “bruta”, mas onde os próprios materiais são a luz, o vídeo ou a cenografia e precisarem por isso de condições técnicas mais exigentes.
No espaço da Bomba Suicida serão apresentados projectos numa fase onde já se começou a tratar e a mexer nos materiais (objectos, textos, imagens, imaginários, vocabulários…) mas ainda não foram confrontados com os outros elementos do espectáculo como a luz ou o som. São materiais que ainda se encontram em estado “bruto” e descontextualizados de um ambiente “espectacular”.
Entre as 22:00 e as 24:00 será apresentado, no espaço do Festival Alkantara, uma série de performances de artistas que pretendam explorar outras formas de relação com o espectador e com o espaço de representação, fugindo à convenção dos espaços onde acontecerão as outras propostas. Serão projectos entre a instalação e a performance, numa relação transdisciplinar entre a dança e as artes plásticas, a música, o cinema, o teatro ou a literatura.
A partir da meia-noite a Festa da Dança vai para o novíssimo espaço LX Factory (Forum Dança e Rumo do Fumo), onde iremos organizar uma festa de dança com DJ’s e VJ’s, que finaliza a programação do dia e possibilita a discussão e a descompressão dos artistas e do público.
Dia 4 de MaioA partir das 15:00 horas, numa parceria com a Câmara Municipal de Lisboa, iremos ocupar um conjunto de espaços nos edifícios circundantes do Terreiro do Paço e apresentar uma série de projectos “site-specific”, ou seja, desenhados e pensados para espaços específicos, como galerias, claustros, arcadas, etc.
Observação Final
A Festa da Dança tem como ambição última, ser a afirmação inequívoca da força e vitalidade de uma comunidade que fez um percurso único e atingiu um grau de maturidade que merece ser celebrado. Mesmo que os governantes tardem em nos reconhecer (ou sobretudo por isso) e mesmo que ainda esteja “tudo por fazer”.
REDE - Associação de Estruturas para a Dança Contemporânea
http://www.oblogdarede.blogspot.com/